A arte do improviso: quando o teatro nos ensina a viver o agora

Existe algo profundamente libertador no teatro de improviso — ou simplesmente Impro, como quem pratica gosta de chamar. Diferente do teatro tradicional, não há roteiro, não há marcação rígida, não há personagens pré-determinados. Há apenas o momento presente, a escuta, a conexão com o outro e a coragem de deixar o desconhecido se revelar.


Tive o privilégio de vivenciar essa experiência em um grupo conduzido pela atriz e diretora Aline Bourse, carioca, apaixonada pela linguagem do improviso e uma verdadeira força criativa. As aulas aconteciam aqui mesmo em São Paulo, no aconchegante Teatro Viradalata, no Sumaré — um espaço que já carrega em si a vibração de muitas histórias, e que agora também guarda um pedaço da minha.

Na foto acima, parte desse grupo incrível que se formou ao longo das semanas. Gente diversa, de trajetórias diferentes, mas que ali, na sala vazia, se encontrava com o mesmo desejo: brincar, explorar e descobrir.

O que faz o Impro ser tão especial?

Impro é escuta.
Antes de falar, você aprende a ouvir. A perceber o gesto mínimo, a intenção sutil, a ideia nascente no olhar do parceiro de cena. E, a partir daí, construir algo junto — nem meu, nem seu, mas nosso.

Impro é presença.
É impossível improvisar pensando no passado ou planejando o futuro. O jogo só funciona quando você está inteiro, disponível, atento ao que nasce naquele exato segundo.

Impro é aceitação.
Uma das regras fundamentais do improviso é o “sim, e...”. Aceitar a proposta do outro e somar a ela. É uma postura que, aos poucos, transborda da sala de ensaio para a vida. A gente aprende a lidar com imprevistos, a abraçar erros e a transformar tropeços em potência criativa.

Impro é vulnerabilidade — e é isso que o torna tão bonito.
Você se expõe, arrisca, às vezes não sabe o que está fazendo. E tudo bem. No improviso, o erro não é fracasso; é matéria-prima. É caminho.

Um encontro que transforma

As tardes no Viradalata eram mais do que aulas. Eram encontros humanos. Risadas, silêncios, tentativas, cenas que nasciam do nada e, de repente, faziam todo sentido. Aline conduzia cada jogo com firmeza e delicadeza, sempre lembrando que improvisar é confiar: em si, no grupo e no processo.

Percebi, ao longo das semanas, que o improviso é um espelho da vida. Não temos controle sobre tudo, mas podemos escolher como reagimos ao que surge. Podemos construir junto. Podemos dizer “sim, e...”.

Por que recomendo essa experiência?

Porque improvisar expande.
Expande a criatividade, a coragem, o senso de humor, a capacidade de se relacionar com o outro. Expande, inclusive, o olhar sobre si mesma.

No Impro, descobri que a cena acontece quando há entrega, mas também leveza. Quando cada pessoa se permite ser quem é — e, ainda assim, brincar de ser quem não é.

Saí desse grupo mais viva, mais presente, mais aberta ao inesperado.
E, como numa boa improvisação, sigo curiosa para o próximo passo.







 

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