Meduse
Meduse: um corpo mítico que atravessa gêneros Artista: Lydia Guerreiro Desde a Antiguidade, a figura da Medusa tem sido cristalizada como o símbolo da mulher-monstro: aquela que, punida por existir e transformada em ameaça, carrega no olhar o poder de petrificar. No entanto, a mitologia — assim como a arte — está sempre aberta a deslocamentos, revisões e expansões. Meduse, escultura em argila, nasce justamente desse espaço de reinvenção. Ao invés de fixar a criatura no campo do feminino demonizado ou do masculino heroico, Meduse opera em uma zona intermediária, onde o gênero se dissolve e dá lugar ao arquétipo. A figura não é “ela” nem “ele”, mas uma presença que reúne traços fluidos: o rosto alongado, a boca entreaberta em expressão de espanto ou revelação, e os elementos serpentiformes que emergem da cabeça como pensamentos em movimento. Essa escolha amplia o imaginário da lenda. A Medusa clássica é frequentemente lida como metáfora da punição do feminino. Meduse, por sua vez, desloc...